sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Asilo, poema

 


 

 

 


 

 

O país do vizinho

é sempre mais verde,

mais amarelo,

e os bardos não são retumbantes.

 

No país do sonho,

não estarei em solo estrangeiro.

Haverá um coro de maravilhas.

 

Até que me agrada

a diáspora do pensamento

que não me dá a terra dos homens.

 

Não sou de lá, nem de cá.

Em minha Suíça de bolso,

carrego a neutralidade

do espírito de porco espinho.

 

Meu medo é um país inimigo.

É duro você caminhar em guerra,

sem a embaixada dos iguais.

 

Estarei sempre aqui e em outro lugar:

o nunca é o limite dos bárbaros.

Preciso de um salvo-conduto

para habitar o asilo de existir.

 

 

 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Formigas voadoras, poema

 


 


 

 

 

Em agosto,

as formigas com asas me aniversariam.

Voam meus anos.

Invadem meu fabulatório.

(Os escritórios

são lugares de escrita inorgânica.

Chamo meu escritório de fabulatório)

Minhas ideias formigam.

As fábulas voejam

em torno do olho de vidro da lâmpada.

 

Se a imaginação

é uma lâmpada acesa,

pode ser que as ideias,

despudoradas,

sem a vestimenta da asa,

rastejem a nudez do prosaico.

 

As horas rodopiam

em volta da luz

e os anos têm pés gordos.

Só a vida tem a eternidade do minuto.