Muda, espalmada,
reiterativa como um terço
em cada hora, a Catedral é outra:
furtiva,
confessionária,
passante e pia.
A luz da Catedral de Brasília
não é luz mística.
São caldeiras:
as fornalhas das máquinas,
o pequeno inferno
dos pecadores
que ilumina cada igreja.
Assim, crua,
na linha dissidente
do horizonte,
a Catedral não é obra de arquitetura
nem templo
nem casa de oração.
A Catedral, na Esplanada dos Ministérios,
é apenas repartição pública,
prédio burocrático,
Sé das almas expedientes.
(do livro Estrangeiro, 1997)
imagem retirada da internet: catedral de brasília