terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Veia poética, poema

 



 

 

 

Procuro minha veia poética

com a agulha das palavras.

A seringa empuxa

sem êmbolo

e de lá sai

um substantivo sem ferro

e uma nota de tinta

que mancha meu nome.

 

Minha pluma,

decaída, sem voo,

desenha o pavão dos horrores.

Passei a noite

entre rabiscos

esboçando-me

que pena tenho de mim.

 

Minha veia poética

é tinta.

 

A anemia,

moléstia contagiosa,

irriga as folhas em branco.

 

 

 

 

 

 

domingo, 7 de janeiro de 2024

Sobre gaiolas e ideias , poema

 


 

 

 

 


 


 

 

 

 

Se o melhor alpiste

é a imaginação,

há ideias indóceis

que rapinam os ovos ainda no ninho.

 

Tenho muitas gaiolas nas ideias.

Isso não é bom.

A toga das grades

as abate com penas.

 

Se a vida é uma gaiola a céu aberto,

não há jardim público

– que são os lugares-comuns –

nem ao menos os privados

– que nos reduzem

ao apascentado do capacho da grama –

para voar nos abismos de viver.

 

O furacão pisca seu olho

no epicentro dos amores.

Nunca é tarde para a manhã.