sábado, 6 de janeiro de 2024

Tempestade em copo d’água, poema

 


 


 

 

 

 

Escorrem pelas comissuras

a colheita dos ventos.

Não sei pronunciar

a palavra morte

que é um copo cheio de nada.

 

Chove a cântaros

numa taça de vinho

e ventos furiosos

espumam

as marés das cervejas.

 

Os copos gelados

são icebergs à deriva das bocas

– os corpos quentes

são lavas

na montanha dos homens

e vertigem

no abismo das mulheres.

 

Há muitos copos

na tempestade.

E meus lábios

beijam a boca da noite.

 

 

 

 

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Oratório

 


 

 


 

 

 

Que pensará Deus de mim?

Deus tem Suas angústias.

E, em muitas noites,

a insônia O atormenta,

embora não saiba onde Ele passa as noites.

A cama de Deus deve ser macia como um sonho.

Os homens são seus pesadelos,

com seus pés minúsculos

e suas ambições de um metro.

Deus há de me sonhar

numa residência do pensamento.

Espero que quando Deus acordar

eu não desapareça

do pensamento de Deus.