terça-feira, 30 de novembro de 2021

Terraplenagem, poema RCF

 


 

A pia conta-gotas não remedia

a moléstia das correspondências.

 

A manhã taciturna

é um destinatário de rugas nervosas.

 

A distância tem mania de remetente das fraturas

e a terraplenagem das ausências.




segunda-feira, 29 de novembro de 2021

As janelas , poema Matadouro de vozes




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As janelas piscam 
o olho maroto 
para a vigília amarela
dos abajures.

Na água furtada, 
o olho d’água é mágico 
e mina acusações
de mirantes.
E a retina recolhe o lixo de luz dos espelhos. 

Passava pela rua do Sol 
e os sótãos 
solfejavam domesticidade.
Não sei a escala 
de música,
tudo o que ouço tem dó,
às vezes escuto
meu pensamento em falsete.

Quando durmo nas alturas 
tenho a vertigem da calçada.
Prefiro a rua 
aos passos domésticos
das viagens em volta
do meu quinto
dos infernos. 

De noite, todos os olhos 
são negros 
e miram a palidez das adivinhações
que gostam de imitar a vida. 



(do livro Matadouro de vozes. Rio: 7Letras, 2018)