Este é o início do meu texto da Introdução ao livro História da literatura ocidental, de Carpeuax, em quatro volumes, publicado pelo Conselho Editorial do Senado:
Estava eu no escritório de Antonio Houaiss, na Rua São José, onde o filólogo dirigia a Enciclopédia Mirador Internacional. Acabara de chegar, acomodara-me muito timidamente numa cadeira, com medo de aquilo resultar em visita desabrida. Eis que irrompe escritório adentro um septuagenário, gravata vermelha de seda e camisa de listas espaçadas também vermelhas. O senhor tinha nas mãos maço de papéis. Dirigiu-se a Houaiss com intimidade de velhos amigos. Não me lembro se o chamou pelo pré-nome ou pelo sobrenome. O certo é que disse:
– Isto aqui não corresponde à verdade. O que está dito aqui sobre Farmácia está incorreto.
E ambos começaram a discutir sobre a História da Farmácia, até que Houaiss sentenciou:
– O que você decidir está feito.
O leitor já deve ter percebido que o homem que adentrara o escritório era Otto Maria Carpeaux. Eu acabara de ver, pela única vez, uma figura quase lendária da cultura brasileira. E não deveria estranhar a cultura enciclopédica de Carpeaux. Afinal, o vienense, nascido com o século (1900), formara-se em Direito, mas com doutorado em Matemática, Física e Química e, em 1925, doutorou-se também em Filosofia e Letras.
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