Aspiro o amor perfeito
ou aspiro ao amor perfeito?
A gramática das flores
exala anacolutos.
O amor perfeito é uma cabala.
Todas as pétalas do idealismo.
Círculo inexato,
triângulo profundo,
número místico
- flor de misterioso aroma,
de forma labiríntica,
que brota em cada pensamento.
A que ramo pertence o amor perfeito?
Às obsessões que são tubérculos?
À submissão que são plantas aéreas?
Ao desejo que é flor que se abre ao toque?
Ao ramo dos exuberantes como os girassóis?
O amor perfeito é planta de laboratório,
rato vegetal,
cobaia pouco humana,
experiência empírica dos sentidos
ou especulação científica das frustrações?
O amor perfeito não existe em flora alguma.
Viceja apenas na botânica humana,
no húmus das delicadezas da alma,
na suprema aspiração das raízes do ser
que brota a flor mais díspare, metafísica,
desarmoniosa e triste.
O amor perfeito é uma abstração
no jardim secreto dos homens crédulos
na serenidade e no círculo da vida.
(do livro Terratreme. Brasília, Secretaria de Cultura do DF, 1998)
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