Assim a praia deserta,
imóvel, paquiderme de areia,
inventando-se a si própria,
onda que de si se alimenta,
estava o coração do mundo.
As palmeiras perfiladas não discordavam
com suas palmas indecisas
e toda nervura da manhã deserta
era a desfiguração da realidade
postal do tempo estagnado:
praia, homem, olhos e areia.
O que escalda não é a areia fina
nem o sol que se dependura, coco
exaustivo, passado do tempo,
o que escalda é o remorso arenoso.
Este mar que me banha
não é líquido.
Já não tenho a memória dos peixes.
(do livro Eterno Passageiro, Brasília, Ed. Varanda, 2004)
(foto rodney smith)
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