quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Tomas Tranströmer, poema do Nobel


No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas

                                                                           subidas.
Havia duas prisões. Uma delas era para os gatunos.
Eles acenavam através das grades.
Eles gritavam. Eles queriam ser fotografados!
"Mas aqui", dizia o revisor e ria baixinho, maliciosamente,
"aqui sentam-se os políticos". Eu vi a fachada, a fachada, a fachada
e em cima, a uma janela, um homem,
com um binóculo à frente dos olhos, espreitando
para além do mar.
A roupa pendia no azul. Os muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde, perguntei a uma dama de Lisboa:
Isto é real, ou fui eu que sonhei?



Tomas Tranströmer, tradução de Luís Costa


imagem retirada da internet

Nenhum comentário:

Postar um comentário