segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Jorge Amado por Fábio Coutinho


Três vezes cem

O ano de 2012 assinala três grandes centenários na Literatura Brasileira: os de Jorge Amado, Lúcio Cardoso e Nelson Rodrigues, todos amplamente merecedores das intensas comemorações que se podem antever. Neste artigo, cuidarei do escritor que nasceu primeiro, naquele longínquo agosto de 1912.

O baiano (de Itabuna) Jorge Amado iniciou muito cedo sua trajetória de consagração literária, publicando três livros em torno dos 20 anos de idade: O País do Carnaval, em 1931, Cacau, em 1933, e, no ano seguinte, Suor. Depois de Macambira, o herói de Rei Negro, de Coelho Neto, que é de 1914, a primeira grande figura de negro a sair viva de carne e alma das páginas de um romance só o faria em 1935, com Antônio Balduíno, a personagem principal de Jubiabá, o quarto romance de Jorge, livro que foi recebido com entusiasmo pela crítica e pelo público. O autor tinha, então, apenas 23 anos!

A partir daí, além da constante colaboração em jornais e em revistas literárias, Jorge Amado passou a atuar politicamente, como militante do Partido Comunista Brasileiro, circunstância que o levou várias vezes à prisão, antes e durante o Estado Novo. No plano da escrita, sua atividade era incansável, sem perda de qualidade: depois de Jubiabá, vieram Mar Morto (1936), Capitães da Areia (1937), ABC de Castro Alves (1941) e O Cavaleiro da Esperança (1942). Nos dois últimos, biografou e homenageou, respectivamente, seu mais ilustre conterrâneo, o poeta dos escravos, e o ídolo político de sua juventude, Luiz Carlos Prestes.

Jorge Amado produziu ficção da boa enquanto os olhos lhe permitiram, e, no fim da vida, ainda pode publicar um esboço (a que chamou de apontamentos) de suas memórias, intitulado Navegação de Cabotagem. Na mirada certeira de Alberto da Costa e Silva, "só aos inteiramente perversos e canalhas Jorge Amado nega a simpatia - por que não dizer o carinho ? - com que desenha os que figuram em seus romances. Cada um deles tem, ao menos uma vez, um gesto doce ou uma palavra de bondade, ainda que, às vezes, envoltos pela atmosfera de farsa". Em 1961, foi eleito, por unanimidade, para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira que tem José de Alencar por patrono e Machado de Assis por fundador. Nada mais justo e apropriado.

Jorge Amado faleceu em Salvador, em 6 de agosto de 2001, a poucos dias de seu aniversário de 89 anos. Deixou uma imensa legião de leitores órfãos e de admiradores incondicionais da grandiosa aventura vital do artista brasileiro que sempre honrou e dignificou a condição humana, contrapondo-se, invariavelmente, à banalidade do mal.





FABIO DE SOUSA COUTINHO, advogado e bibliófilo, é o titular das cadeiras nº 21 da Academia de Letras do Brasil e 74 do Instituto Histórico e Geográfico do DF.



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