A queimada
coloca a terra de cabeça
para baixo
deixando à mostra as raízes
retorcidas em seu gozo de fogo.
O fogo vai arando
com sua foice de línguas,
foice de lâmina mole
mais cortante que fio da navalha.
O campo todo é plantação
de navalhas.
Estou só, perdidamente só,
olhos incandescidos,
na visão fervente do inferno na terra.
Olha bem, são as chamas sentinelas
que, esgalgadas,
vão se esmiuçando
na tropa vermelha
da terra arada
pelos bois
de morte e fúria
que são a combustão
do homem desesperado.
Tudo se amiúda
e cobrem a terra
a coivara
e as sementinhas
negras do nada
das cinzas.
Há silêncio
e o crepitar atrasado
do borralho
– é a terra que se asfixia
dos restos de si mesma
com a capa de chuva negra
que desveste
quando deveria cobrir.
(do livro Terratreme, edição da Secretaria de Cultura do DF, prêmio Bolsa Brasília de Literatura, 1998)
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