O escritor peruano Mario Vargas Llosa acredita que a literatura criada "diretamente para os tablets" pagará o mesmo preço que a televisão, pois se banalizará e cairá na frivolidade.
"É um temor, tomara que não aconteça", declarou nesta quarta-feira o Prêmio Nobel de Literatura de 2010 ao discursar no ciclo que a Biblioteca Nacional da Espanha organizou para comemorar seu terceiro centenário, celebrado neste ano.
Vargas Llosa, de 76 anos, manteve um debate com o jornalista Sergio Vila-Sanjuán. Entre outros temas, o escritor mencionou sua paixão pela leitura desde criança, o nascimento de sua vocação literária, seu amor pelas bibliotecas e seu temor de que os aparelhos eletrônicos afetem o conteúdo da escrita.
Ao contrário do que dizem "com tanta certeza os defensores do livro eletrônico", o escritor peruano não acredita que "o suporte seja insensível ao conteúdo".
Ele baseia seu convencimento no que aconteceu com a televisão: "Por que a televisão banalizou tanto os conteúdos, quando é um instrumento extraordinário para chegar a grandes públicos, mas foi incapaz de se transformar em um transmissor de grandes ideias, de grande arte ou literatura?", questionou o autor.
Em sua opinião, a televisão "não chegou a lugar algum, porque aponta ao mais baixo para chegar ao maior número de pessoas".
Vargas Llosa disse não se opor ao entretenimento e afirmou existir boas séries televisivas, "mas ler (Marcel) Proust ou (James) Joyce não é o mesmo que assistir a uma série".
Em um salão de eventos abarrotado de público - e com dezenas de pessoas que tiveram de acompanhar a conversa do lado de fora por um telão -, Vargas Llosa afirmou que a coisa mais importante que aconteceu em sua vida foi aprender a ler aos cinco anos de idade. Desde então, segundo ele, começou a viver "grandes experiências" graças aos livros. "A leitura me mudou a vida".
Fonte: Ana Mendoza (UOL)
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