Jennifer Egan ganhou com seu livro A visita cruel do tempo (A visit From the Goon Squaq), da editora Intrínsica (2012), os mais importantes prêmios de 2011 nos EUA. Além do mais importante, o Pulitzer, acumulou ainda o National Book Critics Circle Award, o Los Angeles Times Book Prize e o Tournament of Books.
Duas publicações brasileiras fizeram comentários pouco relevantes sobre a autora. A revista Veja ressaltou a beleza de Jennifer Egan e observou que ela usou sapatos baixos por causa do calçamento de Paraty ao participar da Flip. E a Folha de São Paulo chamou de insípida a sua presença na mesa-redonda da qual participou.
Primeiro vou enumerar as coisas que me agradaram no romance A visita cruel do tempo, de Jennifer Egan.
Gosto das mudanças temporais, dos capítulos intercalados, das observações de sensações dos personagens (geralmente um só parágrafo) quando a ação fica suspensa para ser retomada mais à frente. Gosto dos cortes repentinos, quando a autora apresenta outro parágrafo em que mostra o personagem já no presente como no caso do safári em que há um enlevo entre a moça e o rapaz africano que dança e ela, Jennifer, salta até hoje e faz uma rápida reflexão de que aquele homem negro morrerá cheio de mulheres e filhos e seu neto migrará para os Estados Unidos onde se formará em robótica. E de que cada capítulo se refere a um personagem. Nada novo no front literário, mas que ela o usa com habilidade não se pode negar.
O que me desgosta é que a autora trabalha com pesquisa. No final do livro, há uma lista de agradecimentos e se percebe que ela adentrou no mundo da música e das gravadoras por intermédio de pessoas que a levaram a este nicho e que Jennifer usou sua habilidade como jornalista (lembra Zola que anotou seis meses na vida de uma mina e de seus trabalhadores) para escrever muitos dos capítulos. Creio que ela se apresenta melhor e mais escritora quando trata dos sentimentos que são inerentes ao ser humano, independente do lugar e da profissão que exercem os personagens.
Há também muito exotismo desnecessário como o safári africano ou a jornalista que vai “limpar” a imagem de um general genocida, imagina-se na África. Desgosto também da exagerada enumeração de músicas e de conjuntos musicais, além de termos técnicos da produção musical, tudo em nome de gerar uma verossimilhança.
O que Egan quer mostrar é o lugar-comum de descrever a passagem do tempo. Não era necessário tanto fogo de artifício. Talvez bastasse mais fogo que artifício e o livro cumpriria sua missão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário