Em memória de Jório Salgado Gama Filho (1940-2013), primo querido, amigo perfeitoNo campo estritamente livresco, por certo o de maior interesse aos leitores desta publicação, o ano de 2014 marca, entre tantas datas importantes, o cinquentenário do lançamento póstumo, em 1964, de uma obra preciosa, americana na origem estética e universal no legado humanista.Morto em 1961, Ernest Hemingway deixou pronto o seu extraordinário A moveable feast, editado postumamente, nos Estados Unidos, há exatos 50 anos, pela prestigiosa casa livreira Simon&Schuster. Entre nós, foi traduzido pelo grande Ênio Silveira e ganhou o inspirado título de Paris é uma festa .O livro é a crônica apaixonada e reverencial dos anos que o fenomenal homem de letras passou em Paris, de 1921 a 1926. Trata-se de memórias de diversos (e fascinantes) lugares e ambientes da Cidade Luz e, também, do convívio privilegiado com outros luminares expatriados na capital francesa naquele período, tais como F. Scott Fitzgerald e Gertrude Stein. Com elegância de mestre precocemente consumado, Hemingway traça um suave perfil de sua primeira mulher, Hadley, e compartilha lembranças dos tempos augurais às voltas com o ofício em que se tornaria, em prazo relativamente curto, um artífice poucas vezes superado.Autêntica celebração intelectual, o livro traduz, com brilho invulgar, o exuberante clima cultural de Paris, logo em seguida ao fim da I Grande Guerra, e o espírito jovem, a forte criatividade e o entusiasmo irreprimível que o próprio Hemingway personificava de maneira arrebatadora.Ernest Hemingway fez mais para mudar o estilo da prosa em língua inglesa do que qualquer outro escritor no século XX, e isso se traduziu na justíssima concessão do Prêmio Nobel de Literatura, que a Academia Sueca lhe outorgou, em 1954.Seus livros The sun also rises (O sol também se levanta) e A farewell to arms (Adeus às armas) colocam o artesanato textual de Hemingway como dos mais prodigiosos levados a cabo na arte da ficção, em qualquer época. Como integrante da comunidade de expatriados na Paris da década de 1920, o antigo jornalista e motorista de ambulância iniciou uma carreira de literato com dedicação exclusiva, que o levou a uma projeção sem limites e sem retorno. Aficionado por touradas e caçadas, Hemingway admirava a coragem e a entrega incondicional dos praticantes desses esportes, que não raro sofriam castigos físicos e psicológicos de graves e dolorosas proporções.Como repórter, Ernest Hemingway cobriu a Guerra Civil espanhola (1936-1939), retratando-a no romance For whom the bell tolls (Por quem os sinos dobram) e, também, a II Guerra Mundial (1939-1945). Por sua clássica novela The old man and the sea (O velho e o mar), foi agraciado com o Prêmio Pulitzer de 1953.Nascido em Oak Park, Illinois, em 21 de julho de 1899, Hemingway faleceu em Ketchum, Idaho, onde possuía um rancho, alguns dias antes de completar 62 anos de idade. Trágica e violentamente, deu fim à própria vida, que, então, já não lhe era mais uma festa. Deixou milhões de leitores de várias gerações, em todos os cantos da Terra, de Keywest a Madrid, de Havana à amada Paris de sua culta e festejada juventude.
sexta-feira, 9 de maio de 2014
Paris é uma festa, Fabio Coutinho
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Hemingway,
literatura norte-americana.
ganhou, entre outros, os prêmios de Revelação de Autor da APCA, o Casa de las Américas e o Guimarães Rosa. No ano de 1998, edita Terratreme, poesia, livro que recebeu o Prêmio Bolsa de Literatura, pela Fundação Cultural do DF. Durante nove anos dirigiu o Centro de Estudos Brasileiros da Embaixada do Brasil em Caracas. É Doutor em Literatura pela UnB. Em 2000, publica o livro de poemas Andarilho, da ed. 7Letras. Em 2004, sai Eterno Passageiro (Ed. Varanda). Em 2005, pela Ed. LGE, lança o romance O viúvo, que o crítico Adelto Gonçalves chamou “de uma das primeiras obras primas da literatura brasileira do séc. XXI”. Em 2007 lançou dois livros: Manual de Tortura (Esquina da Palavra, contos, 2007) e A Ideologia do personagem brasileiro (Editora da UnB, ensaio, 2007). Em 2009, sai A máquina das mãos, poemas, publicado pela 7Letras, que ganhou o Prêmio de Poesia 2010, da Academia Brasileira de Letras. Em dezembro de 2010 lança o romance Um homem é muito pouco. Memória dos Porcos é publicado em 2012. O difícil exercício das cinzas, de 2014, é seguido pelo livro de ensaios A cidade na literatura (2016) e, mais recente, Matadouro de Vozes (2018)
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