O escritor que hoje recebemos no glorioso e octogenário PEN Clube do Brasil figura entre os melhores cronistas da língua portuguesa, sejam quais forem a época, o lado do Atlântico e o continente de que se a observa. Infelizmente, contudo, uma calada conspiração da indiferença umbiguista impede que se saiba disso, não apenas em Portugal e na África, mas também nas regiões Sudeste e Sul de nosso país. Até hoje, a extensa obra de Edmílson Caminha, cultivada com esmero, paciência, criatividade e originalidade por este artífice do vernáculo, era de conhecimento exclusivo do Ceará, do Distrito Federal e de alguns privilegiados leitores de fora, como o poeta e biógrafo baiano João Carlos Teixeira Gomes, para quem Caminha é autor de “um dos mais lúcidos e profundos estudos existentes na nossa crítica sobre a relevância do memorialismo como criação literária, (...) em que ele efetua, pela primeira vez, a classificação e a tipologia do gênero.”
Já destacou, também, Teixeira Gomes, que
“do mais alto relevo são (...) as revelações contidas em estudo básico sobre
Rachel de Queiroz, editado pela Academia Brasileira de Letras, relembrando as
passagens essenciais da vida da magnífica romancista.”
A eleição de Edmílson Caminha para o PEN
Clube do Brasil, o reduto nacional da promoção da literatura e da defesa da
liberdade de expressão, surgiu, assim, com o propósito de sanar essa gritante
falha de autoconhecimento da cultura brasileira.
No parágrafo vestibular do capítulo
intitulado Massangana, de seu
clássico Minha Formação, o
inigualável Joaquim Nabuco assinalou: “O traço todo da vida é para muitos um
desenho de criança esquecido pelo homem, mas ao qual ele terá sempre que se
cingir sem o saber...”
Viajante contumaz, hoje conhecedor dos
quatro cantos do planeta Terra, Caminha soube invariavelmente carregar, na mala
que leva sobre a cabeça, a origem cearense de que sobremodo se orgulha, a do
menino que nasceu, cresceu e se fez homem em Fortaleza, mas dela partiu para o
mundo, fixando tudo em crônicas saborosas, captando o novo e a novidade como a
criança intelectualmente curiosa que sempre foi e registrando-os em livros
cultos, prazerosos, instigantes.
A impressão que sobeja da fatura literária
de Edmílson Caminha é a de que o livro é quase a concretização de um múnus
público, ou seja, algo que dá aos outros qualquer coisa em termos de
informação, de distração, de direito à felicidade. Um texto que faz o leitor
ficar pensando nos viajantes, na geografia, na história, deixando fluir a
imaginação, até mesmo embarcando com o autor. Nas palavras inspiradas do fenomenal
escritor espanhol Javier Marías, “às vezes tenho a sensação de escrever prosa
com a paciência e o senso de rítmo com que o poeta escreve seus versos.”
E não basta escrever bem, tão bem que o
leitor, a certa altura, pare de ler
porque não segue uma aventura de viajante atento, observador, perspicaz, mas um
mero, burocrático e enfadonho roteiro literário. Escrever é uma serventia
oferecida à sociedade, a exemplo da medicina, da arquitetura, da carpintaria.
É, como evidenciam os livros de Caminha, uma prestação de serviço público, pois
ele escreve para os outros, para quem, por enquanto, não pôs a mala na cabeça,
mas, se e quando o fizer, será um
viajante mais completo, mais educado e sábio.
Em suma, o novo Membro Titular do PEN não
escreve, jamais escreveu, para si, nem para seu grupo de amigos, muito menos
para os críticos. Fá-lo erga omnes.
Querido confrade Edmílson Caminha: sem
conseguir escapar da força avassaladora do duplo sentido de um trocadilho,
vislumbro que Vossa Senhoria ainda está fadado a alçar novos e mais altos vôos.
Aqui, nesta bela sede do PEN Clube do Brasil na Cidade Maravilhosa, de há muito
era urgentemente esperado. A casa é sua: pode entrar, instalar-se na cadeira
que conquistou com tantos méritos e competência tanta e conviver fraternalmente,
enquanto merecermos o extraordinário dom da vida.
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