caminha
na avenida
larga que o estreita
o pensamento febril
e indefinido de mercúrio
ouve a tortura do verbo
a insinuar termômetros
os pés de patíbulo
inchados de tanto alçapão
leva a vida anônima dos condenados à pena
aqueles que escrevem
prescindindo do alarde
das trombetas
de caça dos jornais
a sinfonia nunca tocada
na miséria
do silêncio das pautas
e do sigilo
dos pentagramas
de nada valeu
tantos velames
em serifa
varar a noite
lendo Joyce, Pound ou Nerval
a exposição
inútil das miudezas
o receituário das alterações
metabólicas
a farmácia
de manipulação onde está subjugado
mentalmente
à droga da metáfora
(do livro Andarilho, 7Letras, 2000)
imagem retirada da internet: by ron mueck
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