quinta-feira, 19 de outubro de 2017

E a história começa, Amós Oz



Em E a história começa, Amós Oz comenta dez inícios de clássicos da literatura universal. Alguns por demais conhecidos como o conto “O nariz”, de Gogol, o romance O outono do patriarca, de García Márquez e o conto “Um médico da aldeia”, de Kafka. Outros não são tão familiares ao leitor brasileiro. Exímio narrador, Amós faz de cada análise sua uma outra narrativa também tão agradável e surpreendente quanto o texto de que trata. A interpretação e leitura de Amós não desvendam os mistérios da ficção. O leitor desavisado não aprenderá a ler ou a escrever, mas a perceber que existe um mundo mágico na leitura. Amós aponta procedimentos narrativos que passam despercebidos aos leitores. E são esses “elementos despercebidos” que criam a magia da leitura. O início de cada narrativa é uma maneira de cativar o leitor, mas também tem a função de fazê-lo penetrar num mundo mágico particular. Cada narrativa, mesmo a realista, tem seu universo mágico próprio. A narrativa é um mundo virtual que, a priori, o leitor sabe-o crível, mas não verdadeiro. O papel do início é dar a segurança de um mundo virtual, verossímil e encantatório. Por ser o início do pacto leitor/narrador, os inícios de narrativa são reescritos várias vezes pelos autores a fim de encontrar o tom exato do fascínio. O início das narrativas é como, nos parques, os homens que anunciam as atrações fantásticas da tenda de horrores ou fantasia que estão lá dentro. “Certa vez, em uma praia de nudismo, vi um homem sentado, nu, prazerosamente absorto em um exemplar de Playboy. Exatamente como esse homem, no interior, não no exterior, é onde o bom leitor deve estar enquanto lê”, conclui Amós.



imagem retirada da internet: escher

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