sexta-feira, 8 de abril de 2016

Manoel de Barros

 

 

 

 

VII

Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
            leituras não era a beleza das frases, mas a doença
            delas.

Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
            esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
– Gostar de fazer defeitos nas frases é muito
            saudável, o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
            Pode muito que você carregue para o resto da
            vida um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é bugre? – ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em
            estradas –
Pois é nos desvios que encontra as melhores
            surpresas e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
            agramática.
                                   ( Manoel de Barros )

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