FALAM OS MORTOS DEL ORTO DEI FUGGITIVI *
Nem ossos, nem um retalho de pano da toga,
menos ainda carne, sangue, sêmen:
o que restou de nós é o oco
do nosso corpo na lava, e não digais
que isso nos salva: pois nos condena
a morrer eternamente nossa morte instantânea.
Nem sequer pensareis muito em nós:
vosso século requer um culpado
para lembrar-se dos mortos.
Permanecemos porque de nós
nada permanece: essa é a verdade.
Imagem recortada de um grande Juízo Final,
a natureza quis imitar a arte
e usou conosco seu próprio método:
aprisionar o humano num molde
com vãs aspirações de cifrar o real.
O gás nos imobilizou enquanto trabalhávamos
no campo, nos deixou para sempre
numa agonia aprisionada, duplamente agônica.
Não fornicando, não dormindo, não passeando –
trabalhando, agonizando. Enquanto tudo desaparecia
no barulho do fim, nós
entrávamos asfixiados no grande silêncio.
Fugitivos somente da fugacidade,
para sempre congelados no momento da agonia
e não em outro que melhor nos tivesse definido
o barulho de uns passos entrando n’áqua –
o gosto de uns lábios na tarde cheia de presságios –
um aroma de lavanda e um frescor de tormento –
a sombra propícia de uma oliveira –
De nossas mortes sabereis tudo.
de nossas vidas, absolutamente nada.
Contemplar-nos é perda de tempo. A única moral
é tão evidente que não vale uma metáfora:
neste incêndio apenas serve ser a chama.
Martín López-Vega nasceu numa pequena aldeia do norte da Espanha, em Po de Llanes, Asturias, em 1975. Embora o fundamental de sua obra esteja em espanhol, também escreveu em língua asturiana um volume autobiográfico, Parte meterolóxicu pa Arcadia y redolada [Parte meteorológico para Arcadia y alrededores] (2005) e os livros de poemas reunidos no volume bilíngue Otra vida (2008).
imagem retirada da internet
Nem ossos, nem um retalho de pano da toga,
menos ainda carne, sangue, sêmen:
o que restou de nós é o oco
do nosso corpo na lava, e não digais
que isso nos salva: pois nos condena
a morrer eternamente nossa morte instantânea.
Nem sequer pensareis muito em nós:
vosso século requer um culpado
para lembrar-se dos mortos.
Permanecemos porque de nós
nada permanece: essa é a verdade.
Imagem recortada de um grande Juízo Final,
a natureza quis imitar a arte
e usou conosco seu próprio método:
aprisionar o humano num molde
com vãs aspirações de cifrar o real.
O gás nos imobilizou enquanto trabalhávamos
no campo, nos deixou para sempre
numa agonia aprisionada, duplamente agônica.
Não fornicando, não dormindo, não passeando –
trabalhando, agonizando. Enquanto tudo desaparecia
no barulho do fim, nós
entrávamos asfixiados no grande silêncio.
Fugitivos somente da fugacidade,
para sempre congelados no momento da agonia
e não em outro que melhor nos tivesse definido
o barulho de uns passos entrando n’áqua –
o gosto de uns lábios na tarde cheia de presságios –
um aroma de lavanda e um frescor de tormento –
a sombra propícia de uma oliveira –
De nossas mortes sabereis tudo.
de nossas vidas, absolutamente nada.
Contemplar-nos é perda de tempo. A única moral
é tão evidente que não vale uma metáfora:
neste incêndio apenas serve ser a chama.
* “Jardim dos fugitivos” expõe a fuga de camponeses petrificados pela lava do Vesúvio que atingiu as cidades de Pompeia e Herculano. (N.T.)
Tradução: Ronaldo C. Fernandes
Tradução: Ronaldo C. Fernandes
Martín López-Vega nasceu numa pequena aldeia do norte da Espanha, em Po de Llanes, Asturias, em 1975. Embora o fundamental de sua obra esteja em espanhol, também escreveu em língua asturiana um volume autobiográfico, Parte meterolóxicu pa Arcadia y redolada [Parte meteorológico para Arcadia y alrededores] (2005) e os livros de poemas reunidos no volume bilíngue Otra vida (2008).
imagem retirada da internet
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