Minha terra tem leite condensado de angústia
onde na câmera escura do castigo
se revelam as imagens negativas.
Minha terra tem pernas que, na madrugada,
caminham sem cabeça.
As pernas que tenho já não caminham como lá.
Minha terra tem espelhos com reflexos condicionados
que só sabem multiplicar.
Mas o espelho mostra o mundo
ao contrário que ainda persiste por cá.
Deus, não deixe que antes de morrer
eu volte para minha infância
com pernas sem cabeça,
a imagem negra da câmera escura,
e espelhos matemáticos a me assombrar.
(do livro Memória dos porcos. Rio: 7Letras, 2012)
matisse, a dança
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