Lavramos conosco uma plantação de
tempo.
Um homem cerrado e savana, cheio do
tempo miúdo,retorcido e esparso, que nada produz,
a não ser o minuto inorgânico, que não germina nem morre,
apenas acrescenta praga aos dias ordinários de vegetação rasteira.
Essa plantação, que não alimenta,
vai corroendo o minuto,
que é o tempo em cápsula, não é
plantação que se veja,mato que se perceba, árvore que dê frutos,
vários grãos de passado, a vida vivida de minutos nulos,
o vasto latifúndio de sementes perdidas
fazem o verdadeiro silo do homem:
a safra de foices, a colheita de terra seca.
(do livro Memória dos porcos. Rio: 7Letras, 2012)
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