No meio da praça, no centro desta cidade sem litoral, cria-se o mar. Corre o pensamento caudaloso, a saliva plena. Rodeado por janelas coloniais: estou argonauta.
A água dos beirais ondula nos vidros. Rápido ficam nítidas as ondas sobre o pedregal das ruas. Repousam próximos os navios das montanhas. E os pássaros lanceiam sobre a face líquida.
Torção espumosa no ar: as águas correm, voltam, cortam as esquinas. Mesmo as pontas das casas se armam com o movimento das barbatanas. Movem-se cardumes no telhado.
(do livro Palavra e Rosto, de Fernando Paixão, São Paulo, Ateliê Editorial, 2010)
Nenhum comentário:
Postar um comentário