nem considera a carne triste.
O corpo tem três desertos:
a areia dos sonhos desfeitos,
as pedras que machucam a vontade,
e o silêncio dos barulhos mecânicos.
O exótico pássaro do medo
procria deformidadescomo máquinas defeituosas.
Sobreviverá a seus escombros,
nenhuma catástrofe é maior
que acordar a beleza.
Cansou de ser seu vizinho,
precisa se cercar dos outros
para não ser um terreno baldio,
sair do condomínio das tristezas
que se reúnem para votar em branco.
O conta-gotas das lágrimas
serve como poçoque nunca enche, nem esvazia.
É eternamente dor constante
como relógio que dê sempre
a hora inexistente, a hora zero,
a hora morta, a hora desfeita.
(do livro Memória dos porcos. Rio: 7Letras, 2012)
(foto: vivan mayer)
Nenhum comentário:
Postar um comentário