O carro deslizava em silêncio pela
estrada pouco movimentada. O tempo abafado dava água à pele. Eu ia perdendo
Alice cada vez que me afastava de Búzios. Alice foi a mulher mais búzio que
encontrei em minha vida. Sempre que penso em Búzios ou escuto o nome da cidade
a figura de Alice me aparece, dourada e múltipla, cabelo molhado, flor do sexo
à mostra, a fruta dos mamilos madura e empinada. Alice me deixou em casa e
desapareceu.
Por uma semana não vi Alice. Eu
andava marítimo e seco, aquático e vazio, pelas ruas de Copacabana e Alice não
estava nos cinemas, nos bares e muito menos em minha casa ou no bar do
Vicentino. Quem me perseguia agora era eu mesmo, por isso não queria ir para
casa que ainda tinha o cheiro de Alice. As paredes estavam contaminadas de
Alice, a cama gemia como Alice, os corredores se estreitavam como Alice, as
janelas respiravam como Alice. Eu era perseguidor feroz e maldito, que não me
dava descanso, que me levava aonde ia, que sabia onde estava, queria
enlouquecer porque se enlouquecesse eu não me perseguiria mais. Me encontraria
comigo e não saberia quem eu era e muito menos quem era Alice. E assim livre,
de mim e de Alice, poderia ir ao cinema. Louco, até o tempo pararia de me
atormentar e, quem sabe, poderia deixar de funcionar como relógio que deixou de
ser dado corda.
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