Haveria um santo dos caminhos
que fizesse reto o que Deus gosta de entortar.
Deus deveria ter um caderno
de caligrafia para melhorar a letra.
Os caminhos que são linhas tortas
corrompem a emoção.
O peso dos outros é sempre
desigual, inumano e cheira a culpa.
Os caminhos emanam cheiro de futuro.
O ódio, o amor, o riso.
Tudo tem seu cheiro e sua medida.
Um metro de ódio,
uma dose de amor,
uma talagada de riso.
Aqui estão os caminhos espiralados,
os caminhos sem chão,
as retas que não levam à lucidez.
(do livro Memória dos Porcos. Rio: Ed. 7Letras, 2012)
(imagem: radu belcin)
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