Um dia meu tio
inventou
de morar no
sótão do pensamento lá dele.
E se refugiou menino
na memória cheia de pios
em que vivia na gaiola da infância.
Desce daí da memória,
a gente pedia
e meu tio insistia
em cantar sabiá
entre as grades finas da tristeza.
Até que voou para onde não há canto
ou asa e tudo é gaiola vazia.
Quando ando triste
subo ao galho mais alto
da insensatez
e tento cantar
em linguagem de pássaro.
Rejeito o alpiste da razão
– miúdo e aglomerado –
este que se dá aos melancólicos
engaiolados pela solidão.
(do livro Memória dos porcos. Rio: 7Letras, 2012)
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