As flores do ipê
são borboletas roxas.
Basta ver que voam
quando bate vento.
Logo, também, as borboletas
são flores que desaprenderam
a ficar presas nos galhos.
Não sei onde se localizam
minhas idéias.
Elas são como as borboletas,
se cansam de ficarem presas
na caixa do cérebro.
Às vezes meus braços
têm idéias
que meu corpo
se recusa a oferecer.
Não gosto de as minhas idéias
florirem fora de hora.
Não sei a botânica
da germinação
do casulo dos meus desejos
que brincam de esconde-esconde
como nos eclipses.
O sol fica em pé
no ônibus do dia,
enquanto a lua
impede a passagem
de quem vai subir
ou quer descer.
O sol às vezes estica
o pescoço para ver
por cima do ombro da lua.
Minhas idéias
também evocam
eclipses lunares
e esticam o pescoço
recurvo para olhar
a sombra que habita
as flores que, noturnas,
só abrem sob oferta.
As borboletas noturnas
da minha imaginação
não precisam de galhos
para se fixarem
nem de caixas
ou orgulho
para se soltarem
ao vento do remorso.
Nada me lastima mais
que não ter caule.
(do livro A máquina das mãos. Rio: 7Letras, 2009)
(imagem internet: degas)
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