Minha infância foi morar no calendário.
E me lembrei dos aniversários em família.
Os zepelins dos balões,
as velas do bolo
navegam na falsa calmaria.
O bruxuleio familiar escondia diferenças.
Todos se cumprimentavam
como bonecos de impulsão
– prestes a pular da caixa
onde estavam aprisionados.
Havia o risco de os parentes de papel
se amarrotarem no calor das discórdias
que nenhum refrigerante diminui.
Por fim as saudações de plástico
e o bolo cortado da distância.
Não escrevo para preencher o vazio,
mas para esvaziar-me.
(do livro O difícil exercício das cinzas. Rio: 7Letras, 2014)
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