Os
amantes se unem na formidável imagem
de
um ser de quatro pernas e quatro braços.
Os
amantes não são dois, muito menos um,
são
muitos que se deitam na mesma cama
de
gemidos vicinais, de rios abundantes
que
desembocam, ora rudes, ora alegres,
numa
foz dissoluta de líquidos e vozes.
Multiplicam-se,
cercados de fantasmas erradios,
horizontal
floresta de pelos e peles.
A
branca flor do desejo,
tão
pura e difícil
como
a travessia na corda bamba
entre
dois prédios que não existem.
Solícita
e adocicada,
a
matéria se corrompe
à
quentura dos nervos
ou
à mansidão do fastio.
O
fascínio pelo abismo que é pôr
o
pé no chão frio ao baixar do leito.
No
leito deste rio,
só
há fluidez de pesadelos ansiosos,
umedecidos,
e de correntezas de ar e culpa.
O
travesseiro que cumpre seu nome:
atravessar
o vivente
para
as águas profundas do dormente.
(do livro Matadouro de vozes. Rio: 7Letras, 2018)
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