quinta-feira, 6 de julho de 2023

Mal do esquecimento, poema RCF


Dark Pleasures | The New Yorker







Saí hoje vestido de terno.
A ternura 
não é a alma em gala.
A ternura é, 
a rigor,
um traje esporte:
o algodão doce,
o pano quente,
a seda das carícias.

O molinete das sombras 
provoca em mim
a multiplicação 
dos peixes das suspeitas. 

A memória roda gigante.
Procuro minha veia poética 
com a agulha das palavras.

Cada manhã me catapulto 
da cama
como uma pedra 
lançada à cozinha. 



(Matadouro de vozes, 2018)

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