Quantas
cruzes serão necessárias
para um
Cristo?
Há
dois mil anos mata-se o
mesmíssimo
homem
- é preciso morrer tantas
vezes ao
longo dos séculos?
Por
que rezo pelos joelhos?
Por
que meus narizes
incensam
uma vida eterna?
Ainda
por cima
tenho a ligeira
impressão
que a hóstia é uma
moeda.
Gosto
das caves londrinas ou de Nova York
onde me sinto nas
catacumbas.
Os
padres do Nordeste eram velhas sicilianas,
arrastando as roupas
negras,
o velho hábito das
viúvas e mulheres
de pescadores
portugueses e gregos.
O
padre tinha um ouvido
de palhinha
e
eu sussurrava os mais
doces pecados.
Oh,
Deus, pequei –
quantas Ave-Marias
e quantos Padres-Nossos
devo para expiar
a culpa de duvidar?
As
igrejas me dão sensações febris,
e do púlpito todo orador
me revela
a incapacidade de eu ser
melhor do que sou.
Viverei
mil anos e não aprenderei
a jejuar, a deixar de
exigir de Deus,
a dar nota maior da
carteira,
a não cobiçar a falsa
plenitude do próximo.
Se
todo homem carrega
seu deserto,
sua Via-Crúcis,
sua Terra Prometida,
quando
o dedo de Deus
me
ressuscitará?
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