domingo, 26 de fevereiro de 2023

Oceonário, poema

 


 

 


 

 

 

De que prata

são feitos os peixes?

Eles me olham

no aquário do meu quarto.

Raramente vou à superfície.

Estou acostumado

aos obstáculos que me ponho

para me sentir no meu habitat.

De vez em quando

olho pelo vidro da janela

e o grande oceonário da cidade

entra em bulício.

Há muitas espécies

de gente e outras naturezas:

o abismo dos prédios.

 

Borbulho muitas imaginações

e escrevo no caderno das horas.

Tudo é fluido e submerso.

Não sei se sou

de escama ou de couro,

se marítimo ou fluvial.

Tudo o que tenho é a dúvida

se há mundo além do meu quarto.

Se falam a minha linguagem piscosa,

se emitem algum som

além de gemidos da espécie.

E se lhes falta ar ao ar livre.

Ou melhor, se lhes faltam guelras

ao ar dito livre das cidades.

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário