No
espelho, tudo cabe
e
nada se fixa ou nele habita.
Os
espelhos são malditos
porque
estão cheios de fantasmas.
Fantasmas
que vagaram
algum
dia pelo reflexo fugidio.
O
espelho inveja a foto
que
tudo retém e imobiliza.
Por
sua vez a foto
se
ressente de variedade e vazio.
E
reclama da fixidez
que
deu eternidade
ao
que é fluxo contínuo.
A
foto é um espelho que se fixou,
o
efêmero flash
que
se fez memória.
A
memória tem mais
de
espelho que de foto,
embora
as gentes queiram ver
nesses
a fixação das águas do rio
como
se fosse possível
um
homem banhar-se
duas
vezes no mesmo rio.
A
memória é uma foto
que
se mexe e se transforma
conforme
se vê aquele
que
olha para a câmera.
A
câmera da memória
é
volúvel, tem vários rostos,
e
se movimenta como alguém
que
faz caretas no tempo
diante
do espelho, ou aparece,
se
dilui, retorna mais velho,
e,
por fim, não surge mais
sobre
a superfície de vidro
como
uma memória
ou
espelho em que ninguém se mira.
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