As sapatarias guardam
à noite o diálogo
das promessas
de passos que não se dão
e os caminhos sem
medidas.
Por sua vez, os sapatos,
a oferta da espécie,
que se acostumou
à trilha dos nômades,
mudam-se em couros.
Todas as viagens
são feitas na memória.
E as sapatarias
o verdadeiro
museu do futuro.
Às vezes, calço a manhã
e ela me aperta.
À noite, me calço
do generoso que não fui.
São ex-votos
essa aberração
de pares sem pernas.
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