sábado, 10 de agosto de 2024

Habitação e melancolia, poema

 

 

 


 

 

Habito o quarto

dos fundos da memória.

É lá que guardo

meus hábitos mais antigos.

Sei em que caixa

alugo os romances

que me inquilinavam o corpo.

Num álbum de fotografias

– quando existiam álbuns de fotografia –

estão colados os dias felizes.

Todos estão jovens,

os pais e os avós,

que agora vivem mortos.

Não há nostalgia

– essa doença da saudade –

apenas a constatação

de que estou em fotos

no celular dos filhos,

uma imagem

sem paredes para sustentá-la.

 

 

 

 

 

 

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