quinta-feira, 28 de abril de 2011
Orley*, poema de Everardo Norões
Ele cruzava
as pontes do Recife
em direção à Abissínia.
Nós o seguíamos:
havia sempre um cais,
um segredo,
o elixir das noites mortas.
Aprendíamos
a verdade incompleta,
o sortilégio dos desenganos,
as formas de penetrar,
(de leste a oeste)
a pálpebra das coisas.
Sempre um átomo a pulsar
no vidro,
no sexo,
nos móveis da casa:
a substância mais viva
do esquecimento.
Digo:
o silêncio é uma rua
de janelas fechadas.
*Orley do título é o nome do poeta paraibano/pernambucano Orley Mesquita.
(do livro Retábulo de Jerônimo Bosch, 7Letras, 2008)
Everardo Norões é uma das grandes vozes da poesia contemporânea. Nasceu no Ceará. Publicou os livros Poemas argelinos (1981), Poemas (2000), Nas entrelinhas do mundo (2002), A rua do Padre Inglês (2006).
Labels:
Poesia brasileira contemporânea
ganhou, entre outros, os prêmios de Revelação de Autor da APCA, o Casa de las Américas e o Guimarães Rosa. No ano de 1998, edita Terratreme, poesia, livro que recebeu o Prêmio Bolsa de Literatura, pela Fundação Cultural do DF. Durante nove anos dirigiu o Centro de Estudos Brasileiros da Embaixada do Brasil em Caracas. É Doutor em Literatura pela UnB. Em 2000, publica o livro de poemas Andarilho, da ed. 7Letras. Em 2004, sai Eterno Passageiro (Ed. Varanda). Em 2005, pela Ed. LGE, lança o romance O viúvo, que o crítico Adelto Gonçalves chamou “de uma das primeiras obras primas da literatura brasileira do séc. XXI”. Em 2007 lançou dois livros: Manual de Tortura (Esquina da Palavra, contos, 2007) e A Ideologia do personagem brasileiro (Editora da UnB, ensaio, 2007). Em 2009, sai A máquina das mãos, poemas, publicado pela 7Letras, que ganhou o Prêmio de Poesia 2010, da Academia Brasileira de Letras. Em dezembro de 2010 lança o romance Um homem é muito pouco. Memória dos Porcos é publicado em 2012. O difícil exercício das cinzas, de 2014, é seguido pelo livro de ensaios A cidade na literatura (2016) e, mais recente, Matadouro de Vozes (2018)
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