quinta-feira, 28 de abril de 2011

Orley*, poema de Everardo Norões



Ele cruzava
as pontes do Recife
em direção à Abissínia.

Nós o seguíamos:
havia sempre um cais,
um segredo,
o elixir das noites mortas.
Aprendíamos
a verdade incompleta,
o sortilégio dos desenganos,
as formas de penetrar,
(de leste a oeste)
a pálpebra das coisas.

Sempre um átomo a pulsar
no vidro,
no sexo,
nos móveis da casa:
a substância mais viva
do esquecimento.

Digo:
o silêncio é uma rua
de janelas fechadas.


*Orley do título é o nome do poeta paraibano/pernambucano Orley Mesquita.

(do livro Retábulo de Jerônimo Bosch, 7Letras, 2008)

Everardo Norões é uma das grandes vozes da poesia contemporânea. Nasceu no Ceará. Publicou os livros Poemas argelinos (1981), Poemas (2000), Nas entrelinhas do mundo (2002), A rua do Padre Inglês (2006).

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