Os aviões estão parados no ar
como pássaros que se aninhamnas nuvens, rochas brancas de névoas.
Só um instrumento o homem necessita:
o altímetro para medir
a altura da sua queda.
Se fosse trezentos, trezentos e cinquenta,
fretaria um avião de eus para voar.
Mas não tem nem certeza
de que viaja no seu lugar vago.
O corpo que carrega
é como camisa emprestada,
em algum momento,
sonha que terá que devolver
camisa ou corpo.
Quando está só
nunca se acompanha.
Ser trezentos deve ser
muito barulhento.
Não se ouve
e por isso é surdo à felicidade
que é multitudinária, manche,
e só tem posição para subir.
Já o sonho é uma aeronave
perigosa porque só tem o instrumento
do inconsciente.
E o inconsciente não costuma ser bom piloto
e gosta da turbulência dos abismos.
Dentro dele não há imagens moventes
como nos filmes que são sucessão de fixidez.
Dentro dele, só há fotodrama.
Nada se move, além, é claro,
surrupiando, a velocidade da morte,
zás, um segundo, e oxida o sonho.
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