Urge que se faça um inventário,
que se persiga a história da dor,se busque o sumário do pecado,
marcada a ferro por deus perverso
a humana carne como bovina.
Procura-se um percurso da alegria,
a maneira lassa do riso, dínamo de bem-estar,
que leva o homem em algum momento a esquecer
que é homem e que o instante não dura mais que
o riso, que dele foi arrancado, ou dele pulou,
como mola destravada ou de máquina
que Deus, distraído, esqueceu de regular.
Entre dor e riso, sobra o crime de existir,
que é mais constante e avesso,
embora seja estrada e alojamento
que algum ser, divino ou profano,
em nós fixou como algo que dê volta,
mas não tenha retorno,
minando a vida como uma doença
que se alimenta da morte para viver.
(do livro Memória dos porcos. Rio: 7Letras, 2012)
(foto:duayer)
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