Começam sempre os sonhos a morrer
pelos pés que não querem já levá-los.
E como o céu de um sonho está em seus olhos
o último que se apaga é seu olhar.
E foi por ti que eu vi o que nunca vira:
o cadáver de um sonho.
Dia a dia eu o vejo, aqui em meu rosto, ao levantar-me.
(Voltaste o teu olhar para outro rosto).
Eu sinto-o em minhas mãos,
enormes fossas cheias de sua falta.
Ali ele jaz: meu peito é sua tumba.
Ressoa-me nos passos
que vão, como vivendo, até a minha morte.
Eu sei o segredo último:
o cadáver de um sonho é carne viva,
É um homem de pé, que teve um sonho,
e alguém matou-o. E que finge viver.
Porém, antes de ser seu próprio morto,
já é, agora, o cadáver de um sonho.
Por ti possa eu saber como vivendo
se ressuscita, ainda, entre os mortos.
PEDRO SALINAS, últimas estrofes de “Morte do Sonho”.
Tradução de José Jerônimo Rivera.
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