CASSIANO ELEK MACHADO
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
E há os quase obscuros, como o Vargas Llosa que, de tempos em tempos, é ator teatral. Nos últimos anos, andou encarnando, por exemplo, o rei persa Shariar, de "As Mil e Uma Noites", em palcos de México e Espanha.
Não é de estranhar, pois, que o mais completo de todos os Mario Vargas Llosa seja o conferencista, como poderá testemunhar na semana que vem a plateia do teatro Geo, no Instituto Tomie Ohatke.
Daniel Marenco/Folhapress | ||
Mario Vargas Llosa em retrato tirado em Porto Alegre, em 2010 |
"Farei uma defesa rigorosa da importância da cultura e a crítica da busca desenfreada pelo entretenimento light", adianta Vargas Llosa, com seu vozeirão de rei persa, em entrevista à Folha.
A base da palestra do Nobel será um breve livro de ensaios que ele publicou no ano passado em espanhol e que a editora Alfaguara lançará no Brasil em setembro: "A Civilização do Espetáculo".
PALHAÇADAS
Tanto neste livro como em artigos anteriores, compilados no volume "A Linguagem da Paixão" (esgotado no Brasil), Vargas Llosa atira flechas contra os mesmos alvos: programas de TV como Big Brother, a "paixão pela fofoca", a desvalorização da grande cultura ocidental e "as palhaçadas das artes contemporâneas".
Foi por elas, as artes plásticas, que don Mario puxou o fio da meada.
"Há uns 12 anos eu fui visitar a Bienal de Veneza. Nesse templo mundial da cultura, me dei conta de que não gostaria de ter uma só daquelas obras em casa", diz o escritor, que tem em seu apartamento em Madrid trabalhos de importantes modernistas, como os alemães Max Ernst e George Grosz.
"Tive a percepção de que nenhuma peça daquela imensa exposição italiana sobraria para contar a história e fiquei muito aflito com isso."
Outras aflições vieram a se somar a essa. "Eu me dei conta então de como os grandes escritores que me formaram tinham ido parar nas catacumbas e que quase tudo o que antes era considerado cultura virava entretenimento banal", afirma.
SÉRIES DE TV
Em meio a essa defesa apaixonada dos clássicos universais, Vargas Llosa deixa escapar que ele é um consumidor voraz de séries de TV.
"Seriados como 'Homeland' e 'House of Cards' continuam uma tradição muito divertida, que é a do folhetim, como os de Alexandre Dumas", diz o autor, também admirador da série "The Wire".
"Estes programas não têm pretensões culturais, são uma forma de diversão justificável. Não se parecem em nada com as coisas que faz, por exemplo, Damien Hirst", diz, atacando o artista contemporâneo britânico.
E qual seria, na visão dele, a mais recente ou "última" grande aventura intelectual do ocidente? A literatura de William Faulkner (1897-1962). "Quanto mais passa o tempo, vejo que a obra de Faulkner é a única de nossa época que é comparável à de Tolstói, Cervantes ou Victor Hugo."
Vargas Llosa apenas ri quando é questionado sobre como sua obra será lida no futuro. Mas afirma que "um dos poucos livros que podem se salvar" é "Conversa no Catedral", obra que ganhou este mês nova edição brasileira, pela mesma Alfaguara.
Publicada em 1969, a obra foi, diz ele, recebida inicialmente com a maior de todas as friezas. "Mas foi crescendo e educando leitores. É curioso que, hoje, quando citam meu nome, este é o primeiro livro mencionado."
Segundo o autor, os temas de "Conversa" (em que, por meio de um retrato da realidade peruana dos anos 1950, traça um panorama político da corrupta e repressiva América Latina) seguem "infelizmente atuais". "Há problemas morais, políticos, sexuais ainda vigentes em muitos países da nossa região."
O próximo livro do escritor, ainda não concluído, deverá fazer um interessante contraponto a "Conversa".
(Fonte:UOL)
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