quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Soneto da ausente, Cassiano Ricardo


Can Dagarslani







É impossível que na furtiva claridade
que te visita sem estrela nem lua,
não percebas o reflexo da lâmpada
com que te procuro pelas ruas da noite.

É impossível que, quando choras, não vejas
que uma de tuas lágrimas é minha.
É impossível que, com o teu corpo de água jovem,
não adivinhes toda a minha sede.

É impossível não sintas que a rosa
desfolhada a teus pés, ainda há um minuto,
foi jogada por mim, com a mão do vento.

É impossível não saibas que o pássaro,
caído em teu quarto por um vão da janela,
era um recado do meu pensamento!






De Um Dia Depois do Outro (1947)




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