A chave da seca, a chave do deserto,
a chave das queimadas, a chave das cinzas.
Os lábios racham, as palavras racham.
Mede-se a pressão alta dos incêndios
do cerrado hipertenso.
O cerrado vai comendo a si próprio,
na dieta incendiária.
A névoa seca engana os olhos
com seu véu de noiva incandescente
que se banha no rio de fogo.
O cerrado tem amor próprio,
aqui e ali brotoejam ipês
como mãozinhas amarelas
a acenar para olhos
também secos, também rudes,
também cerrados, também cardíacos.
(do livro O difícil exercício das cinzas. Rio, 7Letras, 2014)
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