o homem habita
a metrópole do corpo.
Na fronteira da pele,
há vários tipos de passaporte.
Por mais que se vigie,
deixa os contrabandos do sexo e do amor
burlarem a aduana da vigília.
O outro é um imigrante ilegal,
que finge, tem outra foto no documento,
troca de nome e de carícia,
até se instalar não mais na periferia,
mas na cidadania do coração.
O homem leva seu território
por onde viaja
ou mesmo na dita sua cidade,
mas não pode fugir de si,
logo constrói o muro das lamentações
ou derruba o muro de Berlim
que o oprime e delimita.
As veias e artérias da sua
cidade murada pela pele
permitem que ele se mude
sem se mudar e,
assim, em sua terra de carne,
vai o homem prisioneiro
do seu corpo
como numa cidade medieval,
cheias de becos e ruas sem saída,
cercada pela insalubridade
do triângulo.
(do livro O difícil exercício das cinzas. rio: 7Letras, 2014)
pintura: otto dix
Nenhum comentário:
Postar um comentário