Ainda há abandono e ruína no mesmo
andar. Ou andar acima ou andar abaixo. Uma miséria vertical. Andei muito pelo
mundo e conheci a desgraça horizontal. Aqui existe tudo em forma de risco. Um
risco de cima abaixo. Há um monte de família. Uma delas: o garçom. O garçom é o
tronco. A árvore do garçom só tem galho vadio. É um tronco que trabalha num
restaurante perto. Os outros garçons trocam de roupa no trabalho.
O garçom meu vizinho sai vestido de
trabalho. A gente abre o elevador e o elevador está black-tie. Cada dia mais o
terno cresce. É que ele murcha na sua função de tronco. A família pouco se dá,
hum, hum, se ele adoece. As olheiras piores são as olheiras dos pulmões. Ele
também não tem os pulmões vadios. O pulmão dele é operoso e um pulmão operoso
que não descansa talvez logo adoeça.
(do livro Um homem é muito pouco. São Paulo: Nankin, 2010)
(do livro Um homem é muito pouco. São Paulo: Nankin, 2010)
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