o Guesa teme a estação dos mausoléus
– sem dia, sem noite –
que sai da caixa adubada
do ar condicionado
e anda no chão
de seca contínua
a enorme relva
aparada de granito
estranha a areia movediça
das escadas rolantes
o tapete
mágico
feito de ferro, o mundo
fantástico
das coisas que se movem
sem sair do lugar
vê as casas de vidro
das lojas e pensa
na cidade liliputiana
de Amsterdam
as prostitutas na vitrine das casas
manequins humanos
museu de cera vivo
ó mundo plástico da matéria
o Guesa percorre
os labirintos de vidro
vê desmaiarem-se
as falésias
das prateleiras
feitas
da tabatinga das caixas
o bazar persa abole a lei da física
dois corpos
podem ocupar o mesmo espaço:
o da realidade
e o corpo do desejo
as máquinas
cospem
latas de refrigerantes
bichos
descomendo alumínio
as praças não são circulares
e os círculos contêm arestas
o Guesa
que conheceu as alturas dos Andes
o inferno de Wall Street, engenheiro
de minas, comedor de pedras da Quinta
da Vitória, nunca tinha visto
o ambulatório
das almas fosforescentes
o Guesa errante
lê o grande livro
de vidro
os delírios das vírgulas
no globo de vidrilhos
o inferno
não é mau, diz o Guesa,
mas apenas
um caminho problemático
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