O facho da lanterna é um filete de luz
que desafia a ordem da noite.
Um vaga-lume espichado de luz contínua,
um bicho iluminado em suas entranhas,
que aponta para um longo dedo de luz artificial.
E como não é elétrico, o facho é uma invenção
das pilhas dos olhos que também se espicham
num terceiro olho de ciclope noturno.
O facho de luz se revela: é um facho de surpresa
e busca, ninguém acende uma lanterna
para fazer o dia como a luz elétrica
fornece um solzinho particular.
A lanterna traz o facho do medo,
é um dia de bolso e, principalmente, o facho mostra
a precariedade do dono,
a luz presa na mão,
a luz que escapa da mão,
a luz que nos reduz à condição menos humana,
há menos carne e matéria e tudo é recortado
um álbum de fotografia de objetos
ou um pesadelo de fragmentos.
(do livro O difícil exercício das cinzas. Rio: 7Letras, 2014)
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