Não contente com sua oficina de erros,
criou em mim máquina de desconcertos.
Deus me deu a poesia,
não para que eu fosse poeta,
mas a fim de que,
para onde me virasse,
mais apertasse no pescoço
a agulha da beleza.
Oh, Deus, por que não cozeste meu barro
e deixaste meu corpo em tabatinga viva?
Minhas palavras têm fraquezas de caixa,
argumentos de eco,
digitais que não deixam impressão,
ao morrer serei menos que o vento,
uma forma de existir sem forma.
Deus, dai-me outra alma
que esta já não serve.
Dai-me a madeira dos serenos,
o osso dos indiferentes,
o alumínio dos sensatos,
a cartilagem dos felizes,
oh, Deus, dai-me outra alma
para que meu corpo cansado
de suportar um peso maior
que seu próprio peso,
possa apenas ser um corpo
como outro corpo qualquer.
(A máquina das mãos. Rio: 7Letras, 2009)
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