Vou por este caminho de água
o mar sendo o meu reino
entre duas terras príncipe da fuga
minha corte, despojada e crua,
corrompe-se ao calor equatorial
não fujo do inimigo
mas de outro tirano mais vil
o que vai me destronando
e sou eu próprio e meu reino
que meu corpo é um súdito
que não me obedece
Trago o Rossio do meu medo
o Tejo da minha deliquescência
o terremoto que tão longe vai
ainda me deixa o império
do meu corpo em ruínas
a que porto chegarei
se a nau que me comporta
este corpo que me porta
não me leva a lugar algum
a não ser ao cais mutatório
que se move contra mim
e não me deixa aportar ou ter sossego
e assim sem reino
e já que meu irmão a varíola
o trono vago deixou
herdei o trono a que não me
acostumei a ser o que sou: um príncipe
que príncipe não nasceu herdeiro
e muito menos príncipe criado foi
logo sou apenas príncipe do meu pecado
o de ser posto onde não deveria estar
e estou onde não deveria ser posto.
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