sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Geleiras, poema de Matadouro de vozes



 

 

 

O que me queima,

devora e rói,

está na carne do tempo

e se move letárgico,

espasmódico e tenro,

um veleiro na montanha.

 

As geleiras,

que águas foram

e à água voltarão,

se automutilam

na voracidade de calor

e desistência.

 

A madrugada regurgita

seu caminho de escuros

e especula a existência de pés.

Acomodados no sofá,

ouvimos a geleira do passado.

 

Minhas mãos

têm dez línguas que falam por uma.

Mas em nenhuma delas sei dizer a palavra adeus.




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