Não me lembro do que esqueci.
O dente de leite
que caiu no café da manhã?
A estrela cadente
que não incandesceu nos meus olhos?
A água viva que matou o verão?
O abraço de madeira
no corpo florido do meu pai?
A morte se maquia;
por isso, minha mãe saía à rua falecida.
A lágrima é um colírio
que se pinga de dentro para fora.
Um colírio que não alivia.
Só não posso esquecer que sou gente.
Não quero ter uma vida de cão.
Estudei pra burro
para não ser um asno.
Tampouco quero ser floresta.
Cresço melhor à noite.
Minha fotossíntese
é uma dialética
entre a tese da treva
e a antítese do florescente mal
de respirar minha inspiração.
Amanhã, se alguém me chamar na rua,
direi que sou passante.
E os passantes não têm nome.
Passantes são animais pequenos
que não têm nome como as pedras.
Só as pedras gigantes têm nome.
Sou muito pequeno
para um monte de coisas.
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